Nossa Senhora do Santo Cordão de Valenciennes, procissão milenar que remonta à Idade Média

Nossa Senhora do Santo Cordão de Valenciennes

A Santa Virgem bem pode mostrar-se a muitos de seus filhos, assim como deixar um sinal da sua presença. Por que não há aparições mais freqüentes da Virgem Santíssima nos dias de hoje?

Muitas vezes as pessoas se deixam levar pelas impressões e não aprofundam o estudo dos problemas, especialmente em assuntos religiosos. Isso se deu com um amigo meu. Ele chegou à conclusão de que, quando a Virgem aparece, é sempre a uma só pessoa, no máximo duas ou três. E de preferência a mulheres.

Motivo? Ele conhece apenas as aparições de Fátima (a três pastorinhos), Lourdes (a Santa Bernardette Soubirous) e a da Medalha Milagrosa (a Santa Catarina Labouré). Como nessas aparições os videntes são poucos, concluiu que sempre é assim. Como quatro dos cinco videntes são mulheres, daí lhe veio a conclusão correspondente.

Ora, se nos dedicarmos um pouco a esse estudo, veremos que essas conclusões não têm fundamento.

Dois estudiosos de aparições marianas, Michael Carroll e Yves Chiron, têm estudado o tema com base em documentos, e de forma científica. Ambos chegaram a conclusões semelhantes: a maioria das aparições tem como videntes pessoas do sexo masculino – 58%, sendo 42% para pessoas do sexo feminino.(1)

Quanto ao número de videntes, o assunto é muito mais complicado, pois há de tudo, literalmente. Há aparições em que duas pessoas estão presentes, mas só uma vê a Virgem. Em outras, como as de Fátima, um vê, ouve e fala (Lúcia); outro só vê e ouve (Jacinta); e outro apenas vê (Francisco).

Há numerosas aparições em que o beneficiário é uma só pessoa. Mas em outras elas são tantas, que ninguém as contou. Há até o caso de uma cidade inteira, o de Nossa Senhora de Valenciennes, que passo a narrar.

Uma peste e uma aparição na Idade Média

Com os progressos da medicina moderna, não temos idéia do pavor que despertava antigamente a palavra peste. O conhecimento do que são as bactérias causadoras da peste, como se propagam e como podem ser combatidas era praticamente nulo, e saber que a peste começou numa cidade era de apavorar.

No ano de 1008, na cidade de Valenciennes, norte da França, o pavor tinha razão de ser, pois em poucos dias morreram cerca de 8.000 pessoas!

Saber que a morte está por perto, sempre torna as pessoas mais religiosas. Além disso, na França, as pessoas dessa época eram real e sinceramente religiosas. Por isso nada estranha que elas se tenham voltado ao Céu para pedir que as protegesse da peste mortal.

Havia perto da cidade um eremita(2) de nome Bertelain, o qual também pediu à Virgem proteção para os habitantes. Nossa Senhora apareceu-lhe, e disse que faria um grande milagre visível para todos, na noite de 7 de setembro. O eremita percorreu a cidade, contando o fato, e na data marcada a população encheu as muralhas, torres e lugares mais elevados.

Nessa noite, efetivamente, no meio de uma grande luz bem visível para todos os habitantes, Nossa Senhora caminhou em redor da cidade, deixando cair no trajeto uma fita vermelha. Não se pense que foi coisa de um instante, ou que Nossa Senhora percorreu poucos metros.

Foram nada menos que 14 quilômetros, e a cidade inteira assistiu ao fato. A ponto de, ao contrário de outras aparições, nas quais as fontes históricas são poucas, todas as crônicas da cidade e da época falam do ocorrido, como sendo de notoriedade pública. Mais ainda, a fita se guardou num relicário na cidade durante muitos séculos, até que durante a Revolução Francesa foi queimada!

Pois os revolucionários não querem saber de provas: com elas ou sem elas, seu ódio é igual contra Deus, a Virgem e a verdadeira Igreja.

A procissão e o milagre do Santo Cordão

Nossa Senhora fez saber ao eremita o significado dessa fita: Ela queria que no dia seguinte, festa de sua Natividade, fosse feita uma procissão seguindo o percurso da fita, e com isso acabaria a peste. E se a procissão fosse repetida a cada ano, Ela protegeria a cidade de outras pestes semelhantes.

No dia seguinte, efetivamente, a procissão foi realizada por toda a população da cidade, e a peste cessou. Até o dia de hoje se faz a procissão, conduzindo uma imagem representando Nossa Senhora que deixa cair uma fita.

Faz parte da procissão uma confraria medieval chamada Raiados de Nossa Senhora do Santo Cordão. Essa denominação é devida ao fato de que seu traje (raiado) tem listas azuis e brancas.

Qual era a população da cidade na época? Pergunta nada fácil de responder, dado que não havia os censos regulares de hoje. Há algum tempo a população está estabilizada em torno de 40.000 habitantes. Mas é difícil calcular quantos eram no século XI.

Em todo caso, para levantar uma cifra, suponhamos que a peste tenha matado metade da população. Isso faria com que ainda houvesse 8.000 pessoas vivas para ver a Virgem. É muita gente!

2008 celebração milenar desta procissão

Essa Procissão é repetida todo ano na cidade de Valenciennes. Mais uma tradição católica que se perpetua nos tempos e cuja origem nem todos conhecem. Ela acontece no segundo domingo de setembro (em comemoração do 8 de setembro, festa da Natividade de Nossa Senhora).

Em 2008 cumprem-se mil anos desde o inicio desta tradição, e serão feitas festividades em comemoração do milenio com uma procissão-peregrinação com a Imagem de Nossa Senhora dos dias 5 a 22 de agosto desde Valenciennes até Lourdes!. Além do que haverá um ano completo de celebrações e festividades para rememorar esta tradição milenar.
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Notas:
1. Yves Chiron, Enquête sur les apparitions de la Vierge, Ed. Perrin-Mame, França, p. 37.
2. Pessoa que vive isolada, dedicada à oração e penitência.

Festa de Corpus Christi, devoção que teve sua origem na Idade Média

Corporal ensanguentado de Bolsena que está na BasÃlica de Orvieto aonde pode ser visto e venerado pelos fieis

Festa de Corpus Christi, devoção que teve sua origem numa visão e milagre eucarístico na Idade Média

Na Idade Média, os homens tinham uma devoção enlevada pela pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Para libertar seu túmulo dos muçulmanos fizeram-se as cruzadas. A história da festa de Corpus Christi tem origem nessa devoção.

No final do século XIII surgiu em Lieja, Bélgica, um Movimento Eucarístico cujo centro foi a Abadia de Cornillon fundada em 1124 pelo Bispo Albero de Lieja. Este movimento deu origem a vários costumes eucarísticos, como por exemplo, a Exposição e Bênção do Santíssimo Sacramento, o uso dos sinos durante a elevação na Missa e a festa do Corpus Christi.

Visão sobre a devoção ao Santíssimo Sacramento

A abadessa Santa Juliana de Mont Cornillon ardia em desejos de que o Santíssimo Sacramento tivesse uma festa especial. Ela teve uma visão em que a Igreja aparecia como uma lua cheia com uma mancha negra, sinal da ausência da solenidade.

Santa Juliana comunicou a visão a vários prelados. Entre estes estava o futuro Papa Urbano IV.

O bispo Roberto de Lieja, em 1246, instituiu a celebração na diocese. O exemplo se estendeu especialmente por toda a atual Alemanha.

Milagre Eucarístico de Bolsena

Em 1263, Pedro de Praga, padre alemão, estava celebrando Missa na Igreja de Santa Cristina em Bolsena. Ele vinha entretendo sérias dúvidas sobre a realidade da presença de Cristo na Hóstia consagrada. Assim que ele completou as palavras da Consagração, o Sangue começou a escorrer da Hóstia Consagrada e correr por suas mãos abaixo, sobre o altar e sobre o linho (corporal). Vendo isto, ele interrompeu a Missa e viajou depressa a Orvieto onde o Papa Urbano IV residia.

Ao ouvir a história dele, o Papa o perdoou por ter dúvidas e enviou os representantes a Bolsena, para investigarem. Paroquianos e outras testemunhas confirmaram a história do padre; e a Hóstia e os linhos manchados estavam lá para todos verem.

Festa de Corpus Christi instituida pelo Papa Urbano IV

A investigação confirmou tudo aquilo que o padre havia relatado. Um ano depois, em agosto 1264, o Papa Urbano IV instituiu a Festa de Corpus Christi (Corpo de Cristo). Este corporal conserva-se até hoje na basílica de Orvieto – construída, aliás, para guardá-lo – onde pode ser visto e venerado pelos fiéis.

O Santo Padre movido pelo prodígio, e a pedido de vários bispos, fez com que se estendesse a festa do Corpus Christi a toda a Igreja por meio da bula “Transiturus” de 8 setembro do mesmo ano, fixando-a para a quinta-feira depois da oitava de Pentecostes e outorgando muitas indulgências a todos que assistirem a Santa Missa e o ofício.

O Papa Urbano IV encarregou um ofício e a liturgia das horas a São Boaventura e a Santo Tomás de Aquino; mas quando o Pontífice começou a ler em voz alta o ofício feito por Santo Tomás, São Boaventura foi rasgando o seu em pedaços.

A festa foi estendendo-se a toda a Igreja a partir do século XIV.

Quando os protestantes negaram a Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Hóstia consagrada, o Concílio de Trento reforçou o costume e dissipou os contestatários, determinado que fosse celebrado este excelso e venerável sacramento com singular veneração e solenidade; e reverente e honorificamente seja levado em procissão pelas ruas e lugares públicos.

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