Os corvos e os meninos; quedas nos pecados —1864

Os corvos e os meninos; quedas nos pecados —1864

Conta a Crônica de Dom Ruffino:

“Nos dia 14 de abril, (São) João Dom Bosco falou de noite com os estudantes e, ao dia seguinte, aos artesãos também, depois das orações.

Relatou em tal ocasião os dois sonhos seguintes que teve, um antes e o outro depois dos Exercícios Espirituais. Assegurava o (Santo) que aqueles sonhos produziram-lhe um profundo terror.

Era a noite precedente à Dominica in Albis, e pareceu encontrar-me no balcão de minha habitação vendo como os jovens se divertiam. Quando eis aqui que vejo aparecer um enorme tecido branco que cobria todo o pátio, debaixo do qual os jovens continuavam seus jogos. Enquanto contemplava aquela cena, vejo uma grande quantidade de corvos que começaram a voar sobre o tecido, a girar por uma parte e por outra até que introduzindo-se pela extremidade do mesmo, jogaram-se sobre os moços para picar-lhes.

O espetáculo que se ofereceu a minha vista foi desolador: a uns tiravam os olhos; a outros picavam a língua, fazendo-lhe mil pedaços; a este davam bicadas na frente e a aquele outro feriam o coração. Mas, o que mais admiração causava, era como eu me dizia mesmo, que nenhum dos jovens gritava ou se lamentava, mas sim todos permaneciam indiferentes, como insensíveis, sem tentar sequer defender-se.

— Estou sonhando — me dizia a mim mesmo — ou estou acordado? É possível que estes se deixem ferir sem lançar um grito de dor?

Mas ao momento senti um clamor geral e depois vejo os feridos que começam a agitar-se, que gritam, que fazendo grande ruído se separam os uns dos outros. Maravilhado ante aquele espetáculo, comecei a pensar no significado de quanto via.

—Talvez, — pensava em mim — como é na sábado in Albis, o Senhor me quer dar a entender seu desejo de nos cobrir a todos com sua graça. Esses corvos serão os demônios que assaltam aos jovens.

Mas, qual não seria minha surpresa, ao comprovar que na segunda-feira diminuíam as Comunhões, na terça-feira muito mais e na quarta-feira de uma maneira alarmante; até o ponto de que, mediada a Missa, já tinha terminado de confessar.

Nada quis dizer, pois estando próximos os Exercícios Espirituais esperava que tudo ficaria solucionado.

Ontem, 13 de abril, tive outro sonho. Com o passar do dia tinha estado confessando; portanto, minha imaginação estava ocupada com o pensamento das almas dos jovens, como o está quase sempre. De noite fui descansar, mas não podia fazê-lo; estava meio dormido, meio acordado, até que ao fim fiquei adormecido.

Então, pareceu-me encontrar-me outra vez no balcão seguindo com a vista o recreio dos jovens.

Vi todos aqueles que tinham sido feridos pelos corvos e os observei atentamente. Mais, de repente, apareceu um personagem com um vaso cheio de um bálsamo numa mão. Ia acompanhado de outro que levava um pano. Ambos dedicaram-se a curar as feridas dos jovens, as quais, ao contato com o bálsamo, ficavam imediatamente cicatrizadas. Houve, entretanto, alguns que ao ver aqueles dois personagens aproximar-se, separaram-se deles e não quiseram ser curados. E, o que mais me desagradou, foi que os tais formavam um número bastante respeitável. Preocupei-me de escrever seu nome em uma parte de papel, pois os conhecia todos, mas enquanto o fazia despertei e encontrei-me sem o papel.

Contudo, fiz um esforço para retê-los na memória, e guarda a lembrança de quase todos. Talvez poder-me-ia esquecer de algum, mas acredito que seriam contados. Agora irei falando, pouco a pouco, com os interessados e procurarei induzir-lhes a sanar de suas feridas.

Dêem a importância que queiram a este sonho; o que lhes posso assegurar é que se lhe emprestarem plena fé não causarão prejuízo algum a suas almas.

Recomendo-lhes encarecidamente que estas coisas não saiam do Oratório. Eu o conto todo, mas desejo que tudo permaneça em casa.

O Cronista não faz comentário algum sobre este sonho, nem oferece nenhuma outra explicação, talvez considerando que as palavras do relato exposto por (São) João Dom Bosco oferecem já em si uma interpretação.

(M. B. Volume VII, págs. 649-650)

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São João Bosco, grande apóstolo da juventude

São João Bosco

São João Bosco, grande apóstolo da juventude

Figura ímpar nos anais da santidade no século XIX, D. Bosco foi escritor, pregador e fundador de duas congregações religiosas, tendo sobretudo exercido admirável apostolado junto à juventude, numa época de grandes transformações. Dotado de discernimento dos espíritos, do dom da profecia e dos milagres, era admirado pelos personagens mais conhecidos da Europa no seu tempo.

Nascido em Murialdo, aldeia de Castelnuovo de Asti, no Piemonte, aos dois anos de idade faleceu-lhe o pai, Francisco Bosco. Mas felizmente tinha ele como mãe Margarida Occhiena, que lembra a mulher forte do Antigo Testamento.

Com sua piedade profunda, capacidade de trabalho e senso de organização, conseguiu manter a família, mesmo numa época tão difícil para a Europa como foi a do início do século XIX, dilacerada pelas cruentas guerras napoleônicas. João Bosco tinha um irmão, dois anos mais velho que ele, e um meio-irmão já entrando na adolescência.

De origem simples e religiosa; a mãe, exemplo de virtudes

A influência da mãe sobre o filho caçula foi altamente benéfica. “Parece que a paciência e a doce firmeza de Mamãe Margarida influenciaram São João Bosco, e que toda uma parte de sua amenidade, de seus métodos afáveis, deve ser atribuída aos modos de sua mãe, à sua maneira de ordenar e de prescrever, sem gritos nem tumulto. […]

Margarida terá sido uma dessas grandes educadoras natas, que impõem sua vontade à maneira de doce implacabilidade” […].

“João Bosco é um entusiasta da Virgem. Mamãe Margarida lhe revelou, pelo seu exemplo, a bondade, a ternura, a solicitude de Mamãe Maria. As duas mães se confundem em seu coração. Dom Bosco será um dos grandes campeões de Maria, seu edificador, seu encarregado de negócios”1.

A Providência falava a São João Bosco em sonhos

A Providência falava a ele, como a São José, em sonhos. Aos nove anos teve o primeiro sonho profético, no qual — sob a figura de um grupo de animais ferozes que, sob sua ação, vão se transformando em cordeiros e pastores — foi-lhe mostrada sua vocação de trabalhar com a juventude abandonada e fundar uma sociedade religiosa para dela cuidar.

Extremamente dotado, tanto intelectual quanto fisicamente, era um líder nato. Por isso, “se bem que pequeno de estatura, tinha força e coragem para meter medo em companheiros de minha idade; de tal forma que, quando havia brigas, disputas, discussões de qualquer gênero, era eu o árbitro dos contendores, e todos aceitavam de bom grado a sentença que eu desse”2, dirá ele em sua autobiografia.

Observador como era, aprendia os truques dos saltimbancos e prestidigitadores, de maneira a atrair seus companheiros para seus jogos e pregação, pois desde os sete anos foi um apóstolo entre eles.

São João Bosco tinha discernimento dos espíritos

Possuía um vivo discernimento dos espíritos, como ele mesmo afirmou: “Ainda muito pequeno, já estudava o caráter de meus companheiros. Olhava-os na face e ordinariamente descobria os propósitos que tinham no coração”3. Essa preciosa qualidade depois o ajudaria muito no apostolado com a juventude.

Órfão de pai, muito pobre para estudar para o sacerdócio como pretendia, e tendo sobretudo a incompreensão do meio-irmão, que o queria no campo, aos 12 anos a mãe lhe pôs sobre os ombros um bornal com alguns

pertences e o enviou a procurar trabalho nas fazendas vizinhas. Assim o adolescente perambulou pela região, servindo de garçom num café, de aprendiz de alfaiate, de sapateiro, de marceneiro, de ferreiro, preceptor, tudo com um empenho exímio, que o levará depois a ensinar esses ofícios a seus “birichini”4 nas escolas profissionais que fundará.

Vivendo de confiança na ajuda da Providência

A vida de São João Bosco é um milagre constante. É humanamente inexplicável como ele conseguiu, sem dinheiro algum, construir escolas, duas igrejas — uma sendo a célebre Basílica de Nossa Senhora Auxiliadora — prover de máquinas específicas suas escolas profissionais, nutrir e vestir mais de 500 rapazes numa época de carestia.

Para Pio XI, “em D. Bosco o sobrenatural havia chegado a ser natural; o extraordinário, ordinário; e a legenda áurea dos séculos passados, realidade presente”8.

Quando mais ele precisava e menos possibilidade tinha de obter dinheiro, aparecia algum doador anônimo para lhe dar a exata quantia necessitada. Mas ele empenhava-se também em promover rifas, leilões e tudo que pudesse render algum dinheiro para sua obra.

Educador ímpar, e sobretudo eficaz diretor de consciências, vários de seus meninos morreram em odor de santidade, sendo o mais conhecido deles São Domingos Sávio. Dom Bosco escreveu-lhe a biografia e a de vários outros.

Necessitando Dom Bosco de ajuda para seu apostolado incipiente, não teve dúvidas em ir pedi-la à sua mãe, já entrada na velhice e vivendo retirada junto ao outro filho e netos.

Essa mulher forte pegou alguma roupa e objetos de que poderia necessitar, e, sem olhar para trás, seguiu seu filho a pé, nos 30 quilômetros que separavam sua vila de Turim. Tornou-se ela a mãe de tantos “birichini”, aos quais alimentava, vestia e ainda dava sábios conselhos. Foi seguindo seu costume que seu filho instituiu as belas Boa Noite, ou palavras edificantes aos meninos antes de eles irem dormir.

Escrevendo a reis e imperadores

São João Bosco mantinha uma correspondência intensa, escrevendo para imperadores, reis, nobreza, dirigentes da nação, com uma liberdade que só os santos podem ter.

Assim, transmitiu ao Imperador da Áustria um recado memorável de Nosso Senhor para que ele se unisse às potências católicas, a fim de se opor ao poderio crescente da Prússia protestante.

São João Bosco manteve correspondência com a Princesa Isabel

Escreveu também à nossa Princesa Isabel, recomendando-lhe seus salesianos no Brasil. Ao rei do Piemonte, prestes a tomar medidas contra a Igreja, alertou-o da morte que reinaria no palácio, caso isso ocorresse. Como o soberano não voltou atrás, quatro membros da família real se sucederam no túmulo, em breve espaço de tempo.

São João Bosco morreu em Turim a 31 de janeiro de 1888, sendo canonizado por Pio XI em 1934. Foi nomeado padroeiro dos jovens e dos aprendizes. Seu dia é celebrado em 31 de janeiro.

Notas:
1.La Varende, Don Bosco, Le Livre de Poche Chrétien, Arthème Fayard, Paris, pp. 15 e 21.
2.San Juan Bosco, Memorias del Oratorio, Primera Fase, 1, p. 7, in “Biografía y Escritos”, B.A.C.
3.Id. Ib.
4.Plural de “birichino” — garoto, gaiato (Dizionario Portoghese-Italiano, Italiano-Portoghese, Carlo Parlagreco e Maria Cattarini, Antonio Vallardi Editore, Milano, 1960).
5.Pe. Rodolfo Fierro, SDB, Biografía y Escritos…, Introdução, p. 14.
6.Id. ib., p. 15.
7.Id. ib., p. 51.
8.Discurso de 3 de abril de 1932, apud BAC, op. cit., p. 11.

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Uma morte anunciada — 1863

Uma morte anunciada — 1863

Copiamos da crônica de Dom Ruffino:

“No dia 1 de novembro (1863), de noite, (São) João Dom Bosco contou aos jovens de uma maneira um tanto jocosa, um breve sonho que tinha tido, com estas palavras:

Não sei se foi motivado pelo pensamento da festividade dos Santos e da comemoração dos fiéis defuntos, o certo é que a noite passada sonhei que morreu um jovem e que eu o acompanhava à sepultura.

Não lhes quero dizer com isto que algum de Vós deva morrer imediatamente; mas posso assegurar que tive vários destes sonhos e todos se realizaram.

Dois dias depois (São) João Dom Bosco voltou a falar sobre a morte e disse:

— Nós estamos acostumados a fazer um pouco de bem e a preparar um fundo de orações em favor daquele que morra primeiro na casa. Também agora devemos fazer o mesmo. Não quero dizer que em breve teremos que lamentar o passo à eternidade de quem deva gozar deste depósito espiritual, mas isto acontecerá. Por isso, ao tal, preparemos-lhe um capital que produza muito fruto.

Quem fique neste mundo alegrar-se-á de permanecer entre os vivos; e o que morra sentir-se-á contente de encontrar-se com os sufrágios preparados de antemão”.

“(São) João Dom Bosco — continua a crônica de Dom Ruffino — propunha aos jovenzinhos todas as noites uma pequena devoção para praticar. A primeira naquela ocasião foi o ajudar às almas do Purgatório.

Em 25 de novembro tinha morrido no Colégio do Mirabello o jovem Antonio Boriglione, de oficio sapateiro, de dezoito anos de idade, o qual tinha sido enviado do Oratório ao Mirabello para que se restabelecesse em sua quebrantada saúde e para que ao mesmo tempo se ocupasse de algum trabalho manual.

(São) João Dom Bosco assegurou publicamente que não era Boriglione ao que tinha feito referência no sonho e que o que teria que morrer conforme tinha indicado a princípios de novembro em seu relato, estava já avisado, ao menos de uma maneira indireta, para que se preparasse”.

A crônica de Dom Ruffino continua em outro lugar:

“Até hoje não soubemos no Oratório a morte do Luis Prete, natural do Agliano, à idade de vinte anos. Desde fazia algum tempo encontrava-se doente em sua casa. Passou à eternidade em cinco de dezembro.

Ao comunicar a infausta nova à comunidade, (São) João Dom Bosco disse:

— Não será o jovem Prete o indicado no sonho? Nem o afirmo nem o nego. O único que asseguro-lhes é que nesta casa os moços morrem de dois em dois; o que não quer dizer que agora vá acontecer o mesmo, mas sim temos que admitir que assim aconteceu sempre. Quando falece um aluno, aos quinze ou vinte dias vai à eternidade outro. Agora veremos se acontece o mesmo.

Talvez este segundo jovem foi Francisco Besucco, que faleceu santamente em 9 de janeiro de 1864″.

(M. B. Volume VII, pág. 550)

O elefante branco; o demônio e seus cúmplices — 1863

O elefante branco; o demônio e seus cúmplices — 1863

Não tendo podido dar (São) João Dom Bosco o presente do último dia do ano a todos seus alunos, por não encontrar-se em casa, ao retornar do Borgo Cornalese, no dia quatro de janeiro, que era domingo, prometeu-lhes que o daria na noite da festa da Epifanía.

Era, pois, em 6 de janeiro de 1863 e todos os jovens, artesãos e estudantes, reunidos no mesmo lugar, esperavam com ansiedade o suspirado presente.

Rezadas as orações, o bom pai subiu a sua tribuna e começou a dizer assim:

“Esta é a noite do presente. Todos os anos quando se aproximam as festas de Natal estou acostumado a dirigir ao Senhor orações especiais, para que me inspire algum presente, que possa servir para seu bem espiritual.

Mas este ano redobrei minhas súplicas, posto que o número dos jovens que me escutam é muito major. Passou, entretanto, o último dia do ano, chegou na quinta-feira, na sexta-feira, e… nada de novo.

Na noite da sexta-feira fui deitar-me, cansado das fadigas do dia, mas não pude pegar um olho em toda ela, de forma que pela manhã encontrava-me meio morto de cansaço. Não perdi a serenidade por isso, antes bem, alegrei-me, pois sabia que quando o Senhor vai-me manifestar algo, estou acostumado a passar muito mal à noite precedente.

Continuei minhas ocupações no Borgo Cornalese e na noite do sábado cheguei entre vós. Depois de confessar fui a dormir, e devido ao cansaço motivado pelas conversas e pelas confissões do Borgo e por quão pouquíssimo tinha descansado nas noites precedentes, fiquei dormido. E aqui começa o sonho que me tem que servir para dar-lhes o presente.

Meus queridos jovens: Sonhei que era dia festivo, era a hora do recreio depois do almoço e que se divertiam de mil maneiras. Pareceu-me encontrar-me em minha habitação com o cavalheiro Vallauri, professor de belas letras. Tínhamos falado de alguns temas literários e de outras coisas relacionadas com a religião; de repente ouço a porta o tac-tac de alguém que chama.

Corro a abrir; era minha mãe, morta fazia seis anos, que me diz assustada:

— Vêem ver, vêem ver.

— O que há?, — perguntei-lhe —.

Sem mais conduziu-me ao balcão e eis aqui que vejo no pátio em meio dos jovens um elefante de colossal tamanho.

— Mas como pode ser isso?, — exclamei —. Vamos, vamos!

E cheio de pavor olhava ao cavalheiro Vallauri e este a mim como se nos perguntássemos a causa da presença daquela besta descomunal em meio dos moços. Sem perda de tempo baixamos os três ao pátio.

Muitos de Vós, como é natural, aproximaram-se para ver o elefante. Este parecia de índole dócil; divertia-se brincando de correr com os jovens; acariciava-os com a tromba; era tão inteligente, que obedecia aos mandatos de seus pequenos amigos como se tivesse sido amestrado e domesticado no Oratório desde seus primeiros anos, de forma que numerosos jovens acariciavam-lhe com toda confiança e seguiam-lhe em qualquer parte.

Mas não todos estavam ao redor daquela besta. Logo vi que a maior parte fugiam assustados de uma parte a outra procurando um lugar de refúgio, e que ao fim entravam na igreja.

Eu também tentei penetrar nela pela porta que comunica com o pátio, mas ao passar junto à estátua da Virgem, perto da fonte, toquei a extremidade do manto de Nossa Senhora para invocar seu patrocínio, e então Ela levantou o braço direito. Vallauri quis me imitar fazendo o mesmo pela outra parte e a Virgem levantou o braço esquerdo.

Eu estava surpreso sem saber-me explicar um fato tão estranho.

Chegou enquanto isso a hora das funções sagradas e dirigiram-se todos à igreja. Também eu entrei nela e vi o elefante de pé ao fundo do templo perto da porta.

Cantaram-se as Vésperas e depois das orações dirigi-me ao altar acompanhado de Dom Alasonatti e de Dom Savio para dar a bênção com o Santíssimo Sacramento. Mas no momento solene em que todos estavam profundamente inclinados para adorar ao Santo dos Santos, vi, sempre ao fundo da igreja no centro do corredor, entre as duas fileiras dos bancos, ao elefante ajoelhado e inclinado, mas em sentido inverso, isto é, com a tromba e as presas voltadas em direção à porta principal.

Terminada a função, quis sair imediatamente ao pátio para ver o que acontecia; mas como tive que atender na sacristia a alguém que me queria comunicar uma notícia, tive que me deter um pouco.

Mas eis aqui que pouco depois encontro-me sob os pórticos enquanto vocês reatavam no pátio seus jogos. O elefante, ao sair da igreja, dirigiu-se ao segundo pátio, ao redor do qual estão os edifícios em obra. Tenham presente esta circunstância, pois naquele pátio teve lugar a cena desagradável que vou contar-lhes seguidamente.

De pronto vi aparecer lá ao final do pátio um estandarte no qual via-se escrito, com caracteres cubitales: Sancta María, succurre míseris (Santa Maria, socorrei os pecadores). Os jovens formavam-se detrás processionalmente.

De pronto e sem que ninguém o esperasse, vi o elefante que ao princípio parecia tão manso, jogar-se contra os circunstantes dando furiosos mugidos e colhendo com a tromba aos que estavam mais próximos a ele, levantava-os em alto, jogava-os no chão, pisoteando-os e fazendo um estrago horrível. Mas apesar disso, os que tinham sido maltratados dessa maneira não morriam, mas sim ficavam em estado de poder sanar das feridas espantosas que produziram-lhes os ataques da besta.

A dispersão então foi general: uns gritavam; outros choravam; outros, ao ver-se feridos pediam auxílio aos companheiros, enquanto, coisa verdadeiramente inqualificável, alguns jovens aos que a besta não tinha feito mal algum, em lugar de ajudar e socorrer aos feridos, faziam um pacto com o elefante para proporcionar-lhe novas vítimas.

Enquanto aconteciam estas coisas (eu encontrava-me no segundo arco do pórtico junto à fonte), aquela pequena estatua que vêem lá ((São) João Dom Bosco indicava a estátua da Santíssima Virgem) animou-se e aumentou de tamanho; converteu-se em uma pessoa de elevada estatura, levantou os braços e abriu o manto, no qual se viam bordadas, com deliciosa arte, numerosas inscrições.

O manto alcançou tais proporções que chegou a cobrir a todos os que iam a guarnecer-se debaixo dele: ali todos encontravam-se seguros. Os primeiros em ir a tal refúgio foram os jovens melhores, que formavam um grupo escolhido, mas ao ver a Santíssima Virgem que muitos não se apressavam a ir a Ela, chamava-os em alta voz:

— Venite ad me omnes! (Venham a mim)

E eis aqui que a multidão dos jovens seguia afluindo ao amparo daquele manto, que estendia-se cada vez mais e mais.

Alguns, em troca, em vez de acolher-se a ele, corriam de uma parte outra, resultando feridos antes de ficar seguros. A Santíssima Virgem, angustiada, com o rosto aceso, continuava chamando, mas cada vez eram mais estranhos os que iam a Ela.

O elefante prosseguia causando estragos, e alguns jovens, dirigindo uma e duas espadas, situando-se em uma e outra parte, dificultavam aos companheiros que se encontravam no pátio, ameaçando-os ou impedindo-lhes que acudissem a Maria. Aos das espadas o elefante não os incomodava o mais mínimo.

Alguns dos moços que se refugiaram perto da Virgem animados por Ela começaram a fazer freqüentes correrias; e em suas saídas conseguiam arrebatar ao elefante alguma presa, e transportavam ao ferido sob o manto da estátua misteriosa, ficando os tais imediatamente sãos.

Depois, os emissários da Maria voltavam a empreender novas conquistas. Vários deles, armados com paus, afastavam à besta de suas vítimas, mantendo a raia aos cúmplices da mesma. E não cessaram em seu empenho até a costa da própria vida, conseguindo pôr a salvo a quase todos.

O pátio aparecia já deserto. Alguns moços estavam tendidos no chão, quase mortos. Para uma parte, junto aos pórticos, via-se uma multidão de jovens sob o manto da Virgem. Em outra, a certa distância, estava o elefante com dez ou doze moços que tinham-lhe ajudado em seu trabalho destruidor, esgrimindo ainda insolentemente em tom ameaçador suas espadas.

Quando eis aqui que o animal, erguendo-se sobre as patas posteriores, converteu-se em um horrível fantasma de compridos chifres; e tomando um amplo manto negro ou uma rede, envolveu nela a aqueles miseráveis que tinham-lhe ajudado, dando ao mesmo tempo um tremendo rugido. Seguidamente os envolveu a todos em uma espessa fumaça e abrindo-se a terra sob seus pés desapareceram com o monstro.

Ao finalizar esta horrível cena olhei a meu redor para dizer algo a minha mãe e ao cavalheiro Vallauri, mas não os vi.

Voltei-me então para Maria Santíssima, desejoso de ler as inscrições bordadas em seu manto, e vi que algumas estavam tomadas literalmente das Sagradas Escrituras, e outras um pouco modificadas. Li estas entre outras muitas:

Qui elucidant me, vitam aetemam habebunt: qui me invenerit, inveniet vitam; se quis est parvulus veniat ad me; refugium peccatorum; salus credentium; plena omnis pietatis, mansetúdinis et misericordiae. Beati qui custodiunt vias mas.

Depois do desaparecimento do elefante todo ficou tranqüilo. A Virgem parecia como cansada por seu muito chamar. Depois de um breve silêncio dirigiu aos jovens a palavra, dizendo-lhes belas frases de consolo e de esperança; repetindo a mesma sentença que vêem baixo aquele nicho, mandadas escrever por mim: Qui elucidant me, vitam aetemam habebunt. Depois disse:

— Vós que escutastes minha voz e escapastes dos estragos do demônio, viram e puderam observar a seus companheiros pervertidos. Querem saber qual foi a causa de sua perdição? Sunt colloquia prava: as más conversações contra a pureza, as más ações a que se entregaram depois das conversações inconvenientes.

Viram também a seus companheiros armados de espadas: são os que procuram sua ruína afastando-os de Mim; os que foram a causa da perdição de muitos de seus condiscípulos. Mas quos diutius expectat durius damnat. Aqueles aos quais espera Deus durante mais comprido tempo, são depois mais severamente castigados; e aquele demônio infernal, depois de envolvê-los em suas redes, levou-os consigo à perdição eterna.

Agora vocês, partam tranqüilos, mas não esqueçam minhas palavras: Fujam dos companheiros que são amigos de Satanás; evitem as conversações más, especialmente contra a pureza; ponham em Mim uma ilimitada confiança, e meu manto servir-lhes-á sempre de refugio seguro.

Depois destas e de outras palavras semelhantes, esfumou-se e nada ficou no lugar que antes ocupava, à exceção de nossa querida estatua.

Então vi aparecer novamente a minha defunta mãe; outra vez elevou-se o estandarte com a inscrição: Sancta María, succurre míseris. Todos os jovens colocaram-se em ordem detrás dele e assim processionalmente dispostos, entoaram a loa: Elogia a María oh, língua fiel!

Mas logo o canto começou a decair; depois desapareceu todo aquele espetáculo e eu despertei completamente suado. Isto é quanto sonhei.

“Oh meus filhos! Vocês mesmos deduzam o presente: os que estavam sob o manto, os que foram jogados pelos ares, os que dirigiam a espada dar-se-ão conta de sua situação se examinarem suas consciências. Eu somente repetir-lhes-ei as palavras da Santíssima Virgem: Venite ad me, omnes. recorram todos a Ela; em toda sorte de perigos invoquem a Maria, e asseguro-lhes que serão escutados.

Pelo resto, os que foram tão cruelmente maltratados pela besta, façam o propósito de fugir das más conversações, dos maus companheiros; e os que pretendiam afastar a outros de Maria, que troquem de vida ou que abandonem esta casa. Quem deseja saber o lugar que ocupava no sonho, que venha para ver-me a minha habitação e eu o direi. Mas o repito: os ministros de Satanás, que troquem de vida ou que partam. boa noite!”

Estas palavras foram pronunciadas por (São) João Dom Bosco com tal unção e com tal emoção, que os jovens, pensando no sonho, não o deixaram em paz durante mais de uma semana. Pelas manhãs as confissões foram muito numerosas e depois do café da manhã um bom número entrevistou-se com o servo de Deus, para perguntar-lhe o lugar ocupava no sonho misterioso.

Que não se tratava de um sonho, mas sim mas bem de uma visão, tinha-o afirmado indiretamente (São) João Dom Bosco mesmo, ao dizer: “Quando o Senhor quer me manifestar algo, passo…, etc…. Estou acostumado a elevar a Deus especiais preces, para que me ilumine…”

E depois, ao proibir que se brincasse sobre o tema desta narração.

Mas ainda há mais.

Nesta ocasião o mesmo servo de Deus escreveu em um papel os nomes dos alunos que no sonho tinha visto feridos, dos que dirigiam a espada e dos que esgrimiam dois; e ensinou a lista a Dom Celestino Durando, encarregando-lhe de vigiá-los. Dom Durando proporcionou-nos a lista, que temos ante a vista, os feridos são 13, ou seja: os que provavelmente não se refugiaram sob o manto da Virgem; os que dirigiam uma espada eram 17; os que esgrimiam dois, reduziam-se a três. Uma nota ao lado de um nome indica uma mudança de conduta.

Temos que observar também que o sonho, como veremos mais adiante, não se referia somente ao tempo presente, mas também ao futuro.

Sobre a realidade do sonho, os mesmos jovens foram as melhores testemunhas. Um deles dizia: “Não acreditava que (São) João Dom Bosco me conhecesse tão bem; manifestou-me o estado de minha alma, e as tentações a que estou submetido, com tal precisão, que nada poderia acrescentar”.

A outros dois jovens, aos quais (São) João Dom Bosco assegurava havê-los visto com a espada, lhes ouviu exclamar: “Ah, sim, é certo; faz tempo que nos demos conta disso; sabíamos!” E trocaram de conduta.

Um dia, depois do café da manhã, falava de seu sonho e depois de ter manifestado que alguns jovens partiriam e outros teriam que fazê-lo, para afastar as espadas da casa, começou a comentar a astúcia dos tais, como ele a chamava; e a propósito disso referiu o seguinte feito:

Um jovem escreveu recentemente a sua casa acusando às pessoas mais dignas do Oratório, como superiores e sacerdotes, de graves calúnias e insultos.

Temendo que (São) João Dom Bosco pudesse ler aquela carta, estudou e encontrou a maneira de que chegasse a mãos de seus parentes sem que ninguém o pudesse impedir. Depois do café da manhã o chamei; apresentou-se em minha habitação e depois de fazer-lhe menção sobre sua falta, perguntei-lhe o motivo que o tinha induzido a escrever tantas mentiras. Ele negou descaradamente o fato; eu o deixei falar, depois, começando pela primeira palavra, repeti-lhe toda a carta.

Confundido e assustado, arrojou-se chorando a meus pés, dizendo:

— Então minha carta não saiu?

— Sim, — respondi —; a esta hora está em sua casa; deves pensar na reparação.

Alguns perguntaram ao (Santo) como o tinha sabido; mas (São) João Dom Bosco respondeu sorrindo com uma evasiva.

Eis aqui o que nos dizem as Memórias Biográficas sobre um dos personagens que intervêm neste sonho: o cavalheiro Vallauri:

Outro personagem ciumento, defensor dos próprios méritos, incapaz de admitir opiniões contrárias às suas, era o célebre Tomas Vallauri, doutor em Belas letras. Parente do defunto médico Vallauri, tinha conhecido no domicílio deste a (São) João Dom Bosco.

O professor tinha feito públicas algumas idéias próprias, algum julgamento, sobre os autores latino-cristãos, injuriando-lhes ao assegurar que, sendo a finalidade dos mesmos o ensino e defesa da religião, tinham descuidado e inclusive adulterado a língua. Este artigo caiu em mãos de (São) João Dom Bosco, o qual estudou a maneira de retificar o critério de seu autor. A ocasião não se fez esperar, tendo vindo o professor Vallauri a lhe visitar, o [Santo] começou a falar-lhe nestes términos:

— Satisfaz-me grandemente o ter chegado a conhecer um escritor, cujo nome é famoso já em toda a Europa e que honra tanto à Igreja com suas obras.

Vallauri, observando o olhar bonachão de (São) João Dom Bosco, interrompeu-lhe dizendo-lhe:

— Quer acaso quer reprender-me?

— Olhe, senhor professor — continuou (São) João Dom Bosco —, apoiando-me em seu critério, quero manifestar-lhe simplesmente meu pensamento: O Sr. sustenta que os autores latino-cristãos não escreveram com elegância suas obras; enquanto que a São Jerónimo o compara por seu modo de escrever com o Tito Livio, a Lactancio com o Cicerón e a outros com o Salustio e com Tácito. (São) João Dom Bosco não acrescentou mais: Vallauri refletiu um pouco e depois acrescentou:

— (São) João Dom Bosco, tem razão; diga-me o que é o que devo corrigir; obedecerei cegamente. É a primeira vez que submeto meu julgamento ao de outro.

E desde aquele dia estava acostumado a repetir ao falar de (São) João Dom Bosco:

— Estes são os sacerdotes que me agradam! Gente sincera!
(M. B. Volume VII, págs. 356-360)

Divulgue esta matéria entre amigos e conhecidos

Assistência a um menino moribundo —1862

Assistência a um menino moribundo —1862

Eis aqui o relato que legou-nos em sua crônica o jovem Jerônimo Sutil. “No sábado, 20 de dezembro, (São) João Dom Bosco, depois das orações de costume, disse aos jovens estas precisas palavras:

— Para a festa de Natal, um de nós irá ao Paraíso.

A enfermaria estava completamente vazia e cada um dos pressentes pensava com certa inquietação em seus assuntos particulares. No domingo 21 transcorreu sem novidade alguma; a enfermaria continuava vazia; muitos foram visitá-la para assegurar-se disso. De noite, no teatro se representava o drama “Cosme II visitando os cárceres”.

No dia 22, depois da função da Igreja, celebrava-se a Novena de Natal; José Blangino, exemplar aluno durante dez anos, natural de São Albano, começou a sentir-se mal e foi até a enfermaria. Em poucas horas o mal agravou-se e o médico perdeu toda esperança de cura”. Dom Francisco Provera continua em sua crônica: “A noite de 23 de dezembro lhe administrou o Santo Viático ao jovenzinho Blangino. Por volta das dez (São) João Dom Bosco estava na enfermaria e falava do perigo de morte em que encontra-se o doente. (Beato) Miguel Dom Rúa disse:

— Se (São) João Dom Bosco quer que eu passe aqui a noite, se por acaso o doente necessitar os últimos auxílios da Religião, estou disposto a fazê-lo.

— Não é necessário — replicou (São) João Dom Bosco —; até as duas da noite não haverá perigo; vete a dormir tranqüilo, deixa ordenado que a essa hora vão chamar-te, pois então deverás estar aqui.

Em efeito, à hora indicada, o jovenzinho recebeu a extrema-unção e meia hora depois tinha entregue sua alma a Deus”.

Pela manhã (São) João Dom Bosco contou que à noite precedente tinha sonhado com o Blangino, ao qual havia visto moribundo. Eis aqui suas palavras:

“Sonhei que o Prefeito Dom Alasonatti estava ajoelhado rezando; minha mãe, morta fazia seis anos e eu, assistíamos ao doente. Ela estava arrumando algumas coisas ao redor da cama e eu estava sentado a certa distância do paciente. Minha mãe aproximou-se do leito e disse:

— Está morto.

— Está morto?, — perguntei eu —.

— Sim, está morto.

— Olhem a ver que horas são.

— Logo serão as três.

Dom Alasonatti enquanto isso exclamou:

— Oh! Queira o Senhor que todos nossos jovens tivessem uma morte tranqüila.

Depois disto despertei. Seguidamente senti um golpe fortíssimo, como se alguém golpeasse na parede. Imediatamente exclamei:

— Blangino parte agora para a eternidade.

Abro os olhos para comprovar se havia luz; mas não vi nada. Rezei então O de profundis, (salmo penitencial, que costuma rezar-se pelas almas das pessoas que falecem) persuadido de que o jovem tinha morrido, e enquanto o rezava ouvi que soavam no relógio as duas e meia”.

Na noite de Natal um número muito consolador de comunhões ajudava a alma do querido defunto e os jovens, como acontecia em casos semelhantes, estreitavam-se cada vez mais ao redor de (São) João Dom Bosco.

Eis aqui o que dizem as crônicas sobre o jovem Jerónimo Sutil, que legou-nos a primeira parte deste relato:

“Veio também a procurar refúgio no Oratório o jovem e bom músico Jerónimo Sutil, que era procurado em Veneza pela polícia por ter pronunciado algumas palavras imprudentes. Este tal afeiçoou-se a (São) João Dom Bosco e durante muitos anos alegrou a vida do Oratório com suas canções venezianas, e tendo partido a França, retornou depois ao Valdocco. Viveu sempre como fervoroso cristão”.
(M. B. Volume VII, págs. 345-346)
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Os Colaboradores de Dom Bosco — 1862

Os Colaboradores de Dom Bosco — 1862
(São) João Dom Bosco assegurava, com muita freqüência, que o Senhor realizaria todos seus intuitos sobre o Oratório servindo-se dos jovens a ele pertencentes.

Dom Pablo Albera recorda uma das conferências daquele tempo dada ao pessoal, pertencente à
incipiente Sociedade Salesiana, a qual produziu um efeito extraordinário entre os ouvintes.

Nela contou (São) João Dom Bosco a seus filhos que tinha tido um sonho.

Um sonho no qual pareceu ver-se rodeado de jovens e de sacerdotes. Havendo-lhes proposto que ficassem em caminho para subir a uma alta montanha que encontrava-se um pouco distante, todos manifestaram-se conformes. Na cima da mesma estavam preparadas as mesas para um esplêndido banquete que seria animado com música e outros festejos. Começaram todos a viagem; a subida era difícil e fatigante, semeada de obstáculos às vezes difíceis de superar e outras quase impraticáveis a causa do cansaço, de forma que ao chegar a determinado lugar todos sentaram-se.

(São) João Dom Bosco também sentou-se, e depois de animar a seus companheiros a continuar a ascensão, ficou de pé e reiniciou a marcha a um passo apressado. Mas havendo-se voltado para ver os que o seguiam, comprovou que todos o tinham abandonado, deixando-o sozinho. Baixou imediatamente e foi em busca deles e depois de reuni-los novamente, encaminhou-os outra vez para a cima áspera; mas logo mais o abandonaram.

Então pensou que tinha que subir àquela altura, não mais sozinho, mas em companhia de outros muitos. Aquela é minha meta… esta é minha missão… Como farei para levá-la a cabo? Já compreendo!

Os primeiros em me seguir foram pessoas recolhidas, virtuosas, de boa vontade, mas às quais não tinham sido provadas e que, portanto, não tinham meu espírito, não estavam acostumados a superar os atalhos difíceis, não estavam unidos entre si nem comigo mediante a prática de especiais virtudes… Por isso, abandonaram-me… Mas eu porei remédio a este fracasso… Este incidente causou-me grande amargura… Já vejo o que tenho que fazer… Só posso contar com os que forem formados por mim… Por isso, voltarei para as encostas do monte… Reunirei a muitos meninos; far-me-ei amar deles; adestrá-los-ei para que saibam suportar sem desanimo provas e sacrifícios… Obedecer-me-ão de boa vontade… subiremos juntos ao monte do Senhor.

E dirigindo-se de uma maneira especial aos que estavam ali congregados, assegurou-lhes que tinha posto neles suas esperanças e durante um bom espaço de tempo, os esteve animando com palavras animadas, a que fossem fiéis à sua vocação, em vista das incontáveis graças que a Virgem lhes concederia e do prêmio seguro que o Senhor lhes tinha preparado.

Entre aqueles jovens que tinham respondido prontamente e com devoto entusiasmo à chamada de (São) João Dom Bosco, estava o diácono José Bongiovanni, o promotor da Companhia da Imaculada, fundador e presidente da Companhia do Santíssimo Sacramento e do Clero Infantil, que foi ordenado sacerdote a 20 de dezembro daquele ano (1862).
(M. B. Volume VII, págs. 336-337)
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O Cavalo Vermelho; Símbolo do comunismo — 1862

O Cavalo Vermelho; Símbolo do comunismo — 1862

As crônicas do mês de julho relatam novas maravilhas sobre (São) João Dom Bosco.

Dom Ruffino escreveu na sua crônica: 1 de julho. (São) João Dom Bosco disse a alguns que lhe rodeavam depois do almoço:

— Este mês teremos que assistir a um funeral.

Em distintas ocasiões repetiu o mesmo uma e outra vez, mas sempre ante um reduzido número de ouvintes.

Estas confidências despertavam nos clérigos uma grande curiosidade, de forma que, nas horas de recreio, quando as ocupações o permitiam, rodeavam ao (Santo) com a esperança de ouvir de seus lábios alguma novidade, e uma delas foi, como o compreenderam mais tarde, a intenção de (São) João Dom Bosco de fundar um instituto para atender às meninas. Em efeito, assim o consignaram por escrito Dom Bonetti e Dom César Chiala.

Em 6 de julho o bom pai narrou a alguns de seus filhos o seguinte sonho que teve na noite do 5 ao 6 do dito mês. Estavam pressentes Francesia, Savio, (Beato) Miguel Rúa, Cerrutti, Fusero, Bonetti o Cavalheiro Oreglia, Anfossi, Durando, Provera e algum outro.

Esta noite — começou (São) João Dom Bosco — tive um sonho singular. Sonhei que me encontrava com a marquesa Barolo e que passeávamos por uma praça situada diante de uma planície muito extensa. Via os jovens do Oratório correr, saltar, jogar alegremente. Eu queria dar a direita à marquesa, mas ela disse-me: — Não; fique onde está.

Depois começou a falar de meus jovens e dizia-me:

— É tão boa coisa que se ocupe dos jovens! Mas deixe-me a mim o cuidado das jovens; assim iremos de acordo. Eu repliquei-lhe:

— Mas, me diga: Nosso Senhor Jesus Cristo veio ao mundo para redimir somente aos jovenzinhos ou também às jovenzinhas?

— Sei — replicou — que nosso Senhor redimiu a todos: meninos e meninas.

— Pois bem; eu devo procurar que seu sangue não se derramou inutilmente, tanto para as jovens como para os jovens.

Enquanto estávamos ocupados nesta conversação, eis aqui que entre meus jovens que estavam na praça começou a reinar um estranho silêncio. Deixaram todos seus entretenimentos e deram-se à fuga, alguns para uma parte, alguns para outra, cheios de espanto.

A marquesa e eu detivemos o passo e ficamos durante uns momentos imóveis. Procurando a causa daquele terror demos uns passos para frente. Levanto um pouco a vista e eis aqui que ao fundo da planície vejo descender até a terra um cavalo grande… imensamente grande… O sangue gelou-se nas veias. — Seria como esta habitação? —, perguntou Francesia. — Oh, muito maior! — replicou (São) João Dom Bosco —. Seria de grande e de alto como três ou quatro vezes mais que este local, e mais que o palácio Madama (este palácio é um dos grandes palácios da cidade de Turim). Em resumidas contas, que era uma besta descomunal. Enquanto eu queria fugir temendo a iminência de uma catástrofe, a marquesa Barolo perdeu o sentido e caiu ao chão. Eu quase não podia ter-me de pé, tanto tremiam os meus joelhos. Corri a esconder-me detrás de uma casa que havia a muita distância, mas de lá jogaram-me dizendo:

— Saia, saia; aqui não tem que vir!

Enquanto isso eu me dizia mesmo:

— Quem sabe que diabo será este cavalo! Não fugirei, adiantarei-me para examiná-lo mais de perto. E embora tremesse de pés à cabeça, armei-me de valor, voltei atrás e aproximei-me.

— Ah! Que horror! Aquelas orelhas rígidas! Aquele focinho descomunal!

Às vezes parecia-me ver muita gente em cima dele; outras vezes, que tinha asas, de forma que exclamei:

— Mas isto é um demônio!

Enquanto o contemplava, como estava em companhia de alguns, perguntei a um dos pressentes:

— O que quer dizer este enorme cavalo?

O tal respondeu-me:

— Este é o cavalo vermelho: Equus rufus, do Apocalipse.

Depois despertei e encontrei-me na cama muito assustado e durante toda a manhã, enquanto dizia Missa; no confessionário tinha diante de mim a (memória) daquele animal.

Agora desejo que algum averigúe se este “equus rufus“, nomeia-se verdadeiramente nas Sagradas Escrituras, e qual é seu significado.

E encarregou a Durando de que procurasse a maneira de resolver o problema. (Beato) Miguel Dom Rúa fez observar que, realmente no Apocalipse, capítulo VI, versículo IV, fala-se do cavalo vermelho, símbolo da perseguição sangrenta contra a Igreja, como explica nas notas da Sagrada Escritura, Mons. Martini. Eis aqui as palavras textuais do livro sagrado:

Et cum aperuisset sigillum secundum, audivi secundum animal, dicens: Veni et vede.
Et exivit alius equus rufus: et qui sedebat super illum datum est ei ut sumeret pacem de térra, et ut invicem se interficiant et datus est ei gladius Magnus.

Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo animal clamar: Vem!
Partiu então outro cavalo, vermelho. Ao que o montava foi dado tirar a paz da terra, de modo que os homens se matassem uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande espada.

No sonho de (São) João Dom Bosco parece que o cavalo representasse o comunismo, que procedendo furiosamente contra a Igreja avançava conspirando contra a ordem social, sem deter-se nem um só passo; impunha-se aos governos, nas escolas, nos municípios, nos tribunais, desejando realizar a obra destruidora começada com o apoio e cumplicidade das autoridades constituídas, em prejuízo da sociedade religiosa e de todo piedoso instituto e do direito de propriedade.

(São) João Dom Bosco disse:

— Seria necessário que todos os bons e nós em nossa pequenez procurássemos com zelo e entusiasmo pôr um freio a esta besta que irrompe em qualquer parte aloucadamente.

De que maneira? Pondo em guarda aos povos mediante o exercício da caridade e com a boa imprensa que contrarie as falsas doutrinas de semelhante monstro, orientando o pensamento dos povos e os corações para a Cátedra de Pedro.

Nela está o fundamento indubitável de toda autoridade que procede de Deus, a chave mestra que conserva toda ordem social; o código imutável dos deveres e dos direitos dos homens; a luz divina que dissipa os enganos das mais inflamadas paixões; aqui o fiel guardião e o defensor poderoso da moral evangélica e da lei natural; aqui a confirmação da sanção imutável dos prêmios eternos reservados a quem observa a lei do Senhor e as penas igualmente eternas para os transgressores da mesma.

Mas a Igreja, a Cátedra de São Pedro e o Papa, são uma mesma coisa. Portanto, para que estas verdades fossem acatadas por todos, (São) João Dom Bosco queria que se fizessem toda sorte de esforços por desfazer as calúnias contra o Pontificado e que se dessem a conhecer os imensos benefícios que Roma reporta à vida social e se procurasse avivar em todos os corações, sentimentos de gratidão, fidelidade e amor para a Cátedra de Pedro.

(M. B. Volume VII, págs. 217-218)
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O Sacrilégio — 1862

O Sacrilégio — 1862

Na primeira semana de julho de 1862, falando (São) João Dom Bosco a seus sacerdotes recomendava uma grande caridade e paciência ao confessar aos jovens para não perder sua confiança; e ao mesmo tempo assegurava-lhes que a prudência necessária e a eficácia da palavra para ganhar os corações, eram dons do Senhor que se obtinham com a oração freqüente, com a mais perfeita pureza de intenção e com atos de penitência e sacrifício, como fazem os bons confessores.

Depois, seguiu falando das confissões sacrílegas dos jovens ao calar de propósito coisas que se têm que manifestar necessariamente (na confissão) e contava-lhes o seguinte fato que tinha acontecido com ele mesmo.

Uma noite sonhei e vi no sonho a um jovem que tinha o coração roído pelos vermes e que ele mesmo retirava e jogava de si aqueles animais com a mão. Não fiz caso do sonho. Mas eis aqui que na noite seguinte vejo o mesmo jovem, que tinha junto a si um cão que lhe mordia o coração. Não duvidei de que o Senhor queria conceder alguma graça a aquele moço e que o pobrezinho tinha algum embrulho na consciência.

“Certo dia disse-lhe de improviso:

— Quer me fazer um favor?

— Sim, sim… Se de mim depende.

— Se quiser, pode-me fazer isso.

— Pois bem; diga-me o que deseja, que o farei.

— Está seguro?

— Seguro!

—Diga-me: não calaste nenhum pecado na confissão?

Ele quis negar isso mas imediatamente acrescentei:

— E isto e isto outro, por que não o confessou?

Então me olhou ao rosto, começou a chorar e disse-me:

—Tem razão: faz dois anos que me quero confessar disso e deixando-o de uma vez para outra não me atrevi a fazê-lo.

Então animei-o e disse-lhe o que tinha que fazer para ficar em paz com Deus”.

Assim falou (São) João Dom Bosco naquela ocasião dando sábios conselhos a seus colaboradores, para que exercessem com êxito a difícil arte de salvar as almas; por sua parte dedicava-se em corpo e alma a fazer de seus jovens outros tantos filhos de Deus.
(M. B. Volume VII, págs. 193-194)
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As Duas Colunas; a Eucaristia e a Devoção à Santíssima Virgem —1862

Pintura representando o sonho das Duas Colunas

As Duas Colunas; a Eucaristia e a Devoção à Santíssima Virgem —1862

Hoje apresentamos a nossos leitores a tradução de um sonho que tem todas as características de uma verdadeira profecia, será que o sonho já se cumpriu ou esta para sê-lo? Circulam pela Internet várias versões deste sonho com uma pintura alegórica, mas há detalhes que temos dele e que são resenhados nas Memórias Biográficas, eu os achei interessantíssimos, e portanto os acrescento aqui.

Em 26 de maio de 1862 (São) João Dom Bosco tinha prometido a seus jovens que lhes narraria algo muito agradável nos últimos dias do mês.

Em 30 de maio, pois, de noite contou-lhes uma parábola ou sonho segundo ele quis denominá-la.

Eis aqui suas palavras:

“Quero-lhes contar um sonho. É certo que o que sonha não raciocina; contudo, eu que contaria a Vós até meus pecados se não temesse que saíssem fugindo assustados, ou que caísse a casa, este o vou contar para seu bem espiritual. Este sonho o tive faz alguns dias.

Figurem-se que estão comigo junto à praia, ou melhor, sobre um escolho isolado, do qual não vêem mais terra que a que têm debaixo dos pés. Em toda aquela vasta superfície líquida via-se uma multidão incontável de naves dispostas em ordem de batalha, cujas proas terminavam em um afiado esporão de ferro em forma de lança que fere e transpassa todo aquilo contra o qual arremete. Estas naves estão armadas de canhões, carregadas de fuzis e de armas de diferentes classes; de material incendiário e também de livros, e dirigem-se contra outra nave muito maior e mais alta, tentando cravar-lhe o esporão, incendiá-la ou ao menos fazer-lhe o maior dano possível.

A esta majestosa nave, provida de tudo, fazem escolta numerosas navezinhas que dela recebiam as ordens, realizando as oportunas manobras para defender-se da frota inimiga. O vento lhes era adverso e a agitação do mar parece favorecer aos inimigos.

Em meio da imensidão do mar levantam-se, sobre as ondas, duas robustas colunas, muito altas, pouco distantes a uma da outra. Sobre uma delas está a estátua da Virgem Imaculada, a cujos pés vê-se um amplo cartaz com esta inscrição: Auxilium Christianorum.(Auxilio dos Cristãos)
Sobre a outra coluna, que é muito mais alta e mais grossa, há uma Hóstia de tamanho proporcionado ao pedestal e debaixo dela outro cartaz com estas palavras: Salus credentium.(Salvação dos crentes)

O comandante supremo da nave maior, que é o Romano Pontífice, ao perceber o furor dos inimigos e a situação difícil em que se encontram seus fieis, pensa em convocar a seu redor aos pilotos das naves ajudantes para celebrar conselho e decidir a conduta a seguir. Todos os pilotos sobem à nave capitaneada e congregam-se ao redor do Papa. Celebram conselho; mas ao ver que o vento aumenta cada vez mais e que a tempestade é cada vez mais violenta, são enviados a tomar novamente o mando de suas respectivas naves.

Restabelecida por um momento a calma, O Papa reúne pela segunda vez aos pilotos, enquanto a nave capitã continua seu curso; mas a borrasca torna-se novamente espantosa.

O Pontífice empunha o leme e todos seus esforços vão encaminhados a dirigir a nave para o espaço existente entre aquelas duas colunas, de cuja parte superior pendem numerosas âncoras e grosas argolas unidas a robustas cadeias.

As naves inimigas dispõem-se todas a assaltá-la, fazendo o possível por deter sua marcha e por afundá-la. Umas com os escritos, outras com os livros, outras com materiais incendiários dos que contam em grande abundância, materiais que tentam arrojar a bordo; outras com os canhões, com os fuzis, com os esporões: o combate torna-se cada vez mais encarniçado. As proas inimigas chocam-se contra ela violentamente, mas seus esforços e seu ímpeto resultam inúteis. Em vão reatam o ataque e gastam energias e munições: a gigantesca nave prossegue segura e serena seu caminho.

Às vezes acontece que por efeito dos ataques de que lhe são objeto, mostra em seus flancos uma larga e profunda fenda; mas logo que produzido o dano, sopra um vento suave das duas colunas e as vias de água fecham-se e as fendas desaparecem.

Disparam enquanto isso os canhões dos assaltantes, e ao fazê-lo arrebentam, rompem-se os fuzis, o mesmo que as demais armas e esporões. Muitas naves destroem-se e afundam no mar. Então, os inimigos, acesos de furor começam a lutar empregando a armas curtas, as mãos, os punhos, as injúrias, as blasfêmias, maldições, e assim continua o combate.

Quando eis aqui que o Papa cai ferido gravemente. Imediatamente os que lhe acompanham vão a ajudar-lhe e o levantam. O Pontífice é ferido uma segunda vez, cai novamente e morre. Um grito de vitória e de alegria ressoa entre os inimigos; sobre as cobertas de suas naves reina um júbilo inexprimível. Mas apenas morto o Pontífice, outro ocupa o posto vacante. Os pilotos reunidos o escolheram imediatamente; de sorte que a notícia da morte do Papa chega com o da eleição de seu sucessor. Os inimigos começam a desanimar-se.

O novo Pontífice, vencendo e superando todos os obstáculos, guia a nave em volta das duas colunas, e ao chegar ao espaço compreendido entre ambas, a amarra com uma cadeia que pende da proa uma âncora da coluna que ostenta a Hóstia; e com outra cadeia que pende da popa a sujeita da parte oposta a outra âncora pendurada da coluna que serve de pedestal à Virgem Imaculada. Então produz-se uma grande confusão. Todas as naves que até aquele momento tinham lutado contra a embarcação capitaneada pelo Papa, dão-se à fuga, dispersam-se, chocam entre si e destroem-se mutuamente. Umas ao afundar-se procuram afundar às demais. Outras navezinhas que combateram valorosamente às ordens do Papa, são as primeiras em chegar às colunas onde ficam amarradas.

Outras naves, que por medo ao combate retiraram-se e que se encontram muito distantes, continuam observando prudentemente os acontecimentos, até que, ao desaparecer nos abismos do mar os restos das naves destruídas, remam rapidamente em volta das duas colunas, e chegando às quais se amarram aos ganchos de ferro pendentes das mesmas e ali permanecem tranqüilas e seguras, em companhia da nave capitã ocupada pelo Papa. No mar reina uma calma absoluta.”

Ao chegar a este ponto do relato, (São) João Dom Bosco perguntou ao (Beato) Miguel Dom Rúa:

— O que pensas desta narração?

O (Beato) Miguel Dom Rúa respondeu:

— Parece-me que a nave do Papa é a Igreja da qual ele é a Cabeça: as outras naves representam aos homens e o mar ao mundo. Os que defendem à embarcação do Pontífice são os fieis à Santa Se; os outros, seus inimigos, que com toda sorte de armas tentam aniquilá-la. As duas colunas salvadoras parece-me que são a devoção a María Santíssima e ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia.

O (Beato) Miguel Dom Rúa não fez referência ao Papa cansado e morto e (São) João Dom Bosco nada disse tampouco sobre este particular. Somente acrescentou:

— Hás dito bem. Somente terei que corrigir uma expressão. As naves dos inimigos são as perseguições. Preparam-se dias difíceis para a Igreja. O que até agora aconteceu (na história da Igreja) é quase nada em comparação ao que tem de acontecer. Os inimigos da Igreja estão representados pelas naves que tentam afundar a nave principal e aniquilá-la se pudessem. Só ficam dois meios para salvar-se dentro de tanto desconcerto! Devoção a Maria. Freqüência dos Sacramentos: Comunhão freqüente, empregando todos os recursos para praticá-la nós e para fazê-la praticar a outros sempre e em todo momento. Boa noite!

As conjecturas que fizeram os jovens sobre este sonho foram muitíssimas, especialmente no referente ao Papa; mas (São) João Dom Bosco não acrescentou nenhuma outra explicação.

Quarenta e oito anos depois — em 1907 — um antigo aluno, cônego Dom João Ma. Bourlot recordava perfeitamente as palavras de (São) João Dom Bosco.

Temos que concluir dizendo que muitos consideraram este sonho como uma verdadeira visão ou profecia, embora (São) João Dom Bosco ao narrá-lo parece que não se propôs outra coisa que, induzir aos jovens a rezar pela Igreja e pelo Sumo Pontífice inculcando-lhes ao mesmo tempo a devoção ao Santíssimo Sacramento e a Maria Santíssima.
(M. B. Volume VII, págs. 169-171)
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Predição de uma morte — 1862

Predição de uma morte — 1862

Escreve Dom Bonetti:

“Em 21 de março de noite, (São) João Dom Bosco subiu a sua pequena tribuna para dar a boa noite aos jovens. depois de fazer uma breve pausa, para tomar fôlego, começou:

Tenho que lhes contar um sonho. Figurem-se a hora do recreio no Oratório em que se ouvem animadíssimos gritos de júbilo por toda parte. Parecia-me estar apoiado na janela de minha habitação observando a meus jovens, que iam e vinham pelo pátio e divertiam-se alegremente jogando, correndo e saltando.

Quando de repente ouvi um grande estrépito à entrada da portaria e dirigindo lá o olhar vi entrar no pátio a um personagem, de elevada estatura, de frente espaçosa, com os olhos estranhamente afundados, larga barba e uns cabelos também brancos e espaçados que da cabeça calva lhe caíam sobre os ombros. Apareceu envolto em um manto fúnebre que apertava contra o corpo com a mão esquerda, enquanto que na direita levava uma tocha com uma chama de cor azul escura. Este personagem caminhava lentamente, com gravidade. Às vezes se detinha e com a cabeça e o corpo inclinado olhava a seu redor como se procurasse algo que tivesse perdido.

Nesta atitude percorreu o pátio dando algumas voltas e passando por entre os jovens que continuavam seu recreio.

Eu encontrava-me estupefato, pois não sabia quem fosse e por isso não lhe tirava a vista de cima.

Ao chegar ao sítio por onde agora se entra na oficina de carpintaria, deteve-se diante de um jovem que estava jogando com outros e estendendo seu comprido braço aproximou a tocha do rosto do moço.

— Este é — disse, e inclinou e levantou duas ou três vezes a cabeça.

Sem mais, deteve-se naquele ângulo e apresentou-lhe um papelzinho que tirou de entre as dobras do seu manto.

O jovem tomou o bilhetinho, desdobrou-o e começou a ler enquanto trocava de cor, ficando completamente pálido e perguntando seguidamente:

— Quando? Logo ou tarde?

E o velho, com voz sepulcral, replicou-lhe:

— Vêem. Já soou a hora para ti.
— Posso ao menos continuar o jogo?
— Até durante o jogo podes ser surpreso.

Com isto aludia a uma morte repentina.

Tal jovem tremia, queria falar, desculpar-se, mas não podia.

Então o espectro, deixando cair uma ponta de seu manto, assinalou com a mão esquerda o pórtico.

— Vês ali? — disse ao jovem —. Aquele ataúde é para ti. Logo, vêem.

Via-se a caixa mortuária colocada no centro do portal que dá entrada ao pátio.

— Não estou preparado; sou ainda muito jovem — gritava o moço.

Mas o outro, sem proferir uma palavra mais, saiu depressa do Oratório, de forma mais precipitada da que tinha entrado.

Quando ausentou-se o espectro e enquanto pensava eu quem pudesse ser, despertei”.

“Pelo que lhes acabo de dizer podem deduzir que um de vós deve preparar-se, porque o Senhor lhe chamará muito em breve à eternidade.

Eu, que contemplei aquela cena, sei quem é, pois o vi quando o espectro apresentou-lhe o papelzinho; está aqui presente, escutando-me, mas não direi seu nome a ninguém até que tenha morrido.

Contudo, farei quanto esteja de minha parte para prepará-lo a bem morrer. Agora que cada um reflita, pois ao melhor enquanto vai-se repetindo: talvez seja fulano, poder-lhe-ia tocar a quem isto diz.

Eu lhes tenho dito as coisas tais e como são, pois de não havê-lo feito, o Senhor poder-me-ia pedir contas o dia de amanhã dizendo-me:

— Cão! Por que não ladrou a seu tempo? Que cada um pense em ficar bem com Deus especialmente nestes três dias que faltam para a Novena da Anunciata.

Façamos com este fim orações especiais e que cada um, em este tempo, reze ao menos uma Salve Regina a Maria Santíssima, pelo que deverá morrer. Assim ao partir desta vida encontrar-se-á com alguns centenares de Salves que ser-lhe-ão de grande proveito”.

Ao descer de sua tribuna, alguns jovens lhe perguntaram privadamente mais detalhe sobre o sonho que acabava de referir, rogando-lhe que, já que não queria dizer o nome do qual tinha que morrer, ao menos indicasse se a morte anunciada seria logo ou tarde. O servo de Deus respondeu que talvez não passariam duas festas que começassem com P sem que aquele vaticínio se cumprisse.

— Poderia acontecer — disse — que não passassem nem sequer uma e que o tal morre-se dentro de duas ou três semanas.

Este relato fez estremecer a todos, pois cada um temia ser o jovenzinho indicado no sonho.

Como em outras ocasiões, a narração de (São) João Dom Bosco causou um grande bem e como cada um pensava em seus assuntos, desde o dia seguinte as confissões começaram a ser mais numerosas que de costume; muitos jovens durante vários dias assediaram a (São) João Dom Bosco perguntando-lhe por conta própria, se eram eles os que deviam morrer em breve.

Insistentes foram as pergunta, mas o bom pai trocava de conversação e nada dizia sobre o particular.

Duas idéias ficaram fixas na mente de todos, ou seja: que a morte seria repentina; que a predição se verificaria antes que se celebrassem duas solenidades que começassem por P, isto é: Páscoa e Pentecostes. A primeira caía naquele ano em 20 de abril.

A espera no Oratório era enorme quando em 16 de abril — continua a Crônica de Dom Bonetti — morria em sua casa o jovem Luis Fornasio.

Há algumas coisas que notar a este respeito.

Quando (São) João Dom Bosco disse que alguém tinha que morrer, este jovem que em um princípio não era de má conduta, começou a viver como um verdadeiro modelo.

Nos primeiros dias pediu a (São) João Dom Bosco lhe permitisse fazer sua confissão geral. O servo de Deus não queria aceder porque já a tinha feito uma vez, mas como o moço insistiu, o bom pai determinou agradá-lo.

Fê-la duas ou três vezes. O mesmo dia que pediu este favor ou na mesma data em que começou sua confissão, começou a sentir-se mau.

Permaneceu uns dias no Oratório algo molesto. Tendo vindo dois de seus irmãos a visitá-lo e inteirados de seu mal-estar, pediram a (São) João Dom Bosco que deixasse ao Luis ir casa durante algum tempo.

(São) João Dom Bosco concedeu a permissão.

Aquele mesmo dia ou no dia anterior, Fornasio tinha terminado de fazer sua confissão geral, recebendo a Sagrada Comunhão.

Foi a sua casa, esteve uns dias levantado, mas depois guardou cama.

A gravidade do mal acentuou-se atacando-lhe a cabeça, privando-lhe da razão e do uso da palavra, de forma que já não pôde nem confessar nem comungar mais.

(São) João Dom Bosco foi ao Borgaro a visitá-lo; Fornasio o reconheceu, queria falar-lhe mas não podia, sendo tal o sentimento que se apoderou dele que começou a chorar e com ele toda a família. Ao dia seguinte morria.

Ao saber-se no Oratório a notícia deste falecimento, vários clérigos perguntaram a (São) João Dom Bosco se Fornasio era o jovem que tinha visto no sonho recebendo o papelzinho de mãos do espectro, e o servo de Deus deu a entender que não era ele.

Contudo, muitos estavam convencidos de que a profecia cumpriu-se na pessoa do Fornasio.

Àquela mesma noite de 16 de abril, (São) João Dom Bosco deu a conhecer aos alunos a triste noticia, descrevendo a morte do Luis Fomasio fazendo observar, ao mesmo tempo, que aquele acontecimento dava a todos uma grande lição.

— Que quem tem tempo que não aguarde mais. Não nos deixemos enganar pelo demônio com a esperança de ajustar as coisas de nossa alma perto da nossa morte.

Como lhe perguntassem publicamente se Fornasio era o que devia morrer, respondeu que por então não queria dizer nada. Acrescentou, entretanto, que era costume no Oratório que os jovens morressem de dois em dois e que alguém chamasse ao outro, que por isso todos deviam estar em guarda pondo em prática o aviso do Senhor de estar preparados: Estote parati quia qua hora non putatis Filius hominis veniet.(Estai de guarda que na hora menos esperada vem o Filho do Homem.)

Ao descer da tribuna disse claramente a algum sacerdote e a um clérigo, que não era Farnasio quem no sonho tinha recebido o bilhetinho das mãos do espectro.

Em 17 de abril, durante o recreio depois do almoço, (São) João Dom Bosco encontrava-se no pátio rodeado de certo número de jovens, os quais perguntaram-lhe com interesse:

— Diga-nos o nome de quem vai morrer.

O servo de Deus sorrindo fez sinal com a cabeça de que não o diria, mas os jovens insistiram.

— Se não nos quer dizer isso , diga-lhe ao menos ao (Beato) Miguel Dom Rúa.

(São) João Dom Bosco seguia resistindo.

— Diga-nos ao menos a inicial do nome — pressionavam alguns.

— Querem sabê-lo? — disse ao fim —. Pois os direi: o que recebeu o papelzinho de mãos do personagem tem um nome que começa com a mesma letra que o nome da Maria.

O que (São) João Dom Bosco acabava de dizer não demorou para saber-se em toda a casa.

Os jovens pretendiam esclarecer o mistério, mas era coisa difícil, pois havia mais de trinta alunos cujo sobrenome começava pelo M, não faltaram entretanto os espíritos desconfiados. Havia em casa um doente gravemente chamado Luis Marchisio, de cuja cura se duvidava muito; e, em efeito, em 18 de abril foi levado à casa de seus familiares.

Alguns, suspeitando que (São) João Dom Bosco aludisse ao Marchisio, diziam: — Se for Marchisio, também eu saberia adivinhar que alguém tem que morrer e que seu nome começa pela mesma letra que o nome da Maria.

Dom Bonetti, depois de preencher na Crônica as lacunas dos meses de março e abril, prossegue sua narração fazendo notar a realidade da predição feita por (São) João Dom Bosco ao contar o sonho de 21 de março.

Tinha passado já um mês de tal vaticínio, diminuindo em alguns a saudável impressão que as palavras do servo de Deus tinham produzido em seus ânimos. Muitos, em troca, continuavam perguntando-se:

— Quem morrerá? Quando morrerá? A primeira P correspondente à festa de Páscoa passou.

E eis aqui que em 25 de abril morre improvisadamente de um ataque apopléctico, o jovem Victorio Professor, de treze anos de idade, natural da Viora, Mondoví.

Até o dia da predição tinha gozado este jovem — que era de extraordinária virtude e acesa piedade Eucarística —, de uma perfeita saúde; mas desde fazia um par de semanas padecia uma forte afecção aos olhos, ficando de noite privado por completo da vista, e fazia dois ou três dias padecia também uma ligeira dor de estômago.

O médico ordenou-lhe que pela manhã não se levantasse com outros, mas sim descansasse até mais tarde.

(São) João Dom Bosco, uma manhã, havendo-o encontrado pela escada perguntou-lhe:

— Quer ir ao Paraíso?
— Sim, sim, —, replicou Professor.
— Pois bem; prepara-te — acrescentou o servo de Deus.

O jovem olhou a (São) João Dom Bosco um pouco turbado, mas acreditando que falava em brincadeira, reagiu imediatamente.

Pelo resto, o bom pai, que estava sobre aviso, ia preparando ao jovem com prudentes conselhos induzindo-lhe a fazer sua confissão geral, depois da qual Maestro ficou muito contente.

Em 24 de abril um jovenzinho, ao ver Maestro sentado em um banco da enfermaria, teve uma singular idéia e aproximando-se de (São) João Dom Bosco perguntou-lhe:

— É certo que o que quer morrer é Maestro?
— E eu o que sei! — replicou o (Santo) —, pergunta-lhe a ele.

O jovenzinho subiu à enfermaria e o perguntou a Maestro.

Este começou a rir e foi pedir-lhe a (São) João Dom Bosco lhe deixasse passar uns dias com a família.

Com muito gosto — replicou o bom pai —; mas antes de partir é necessário que o médico estenda um certificado de tua enfermidade.

Esta resposta serve de grande consolo ao jovem que raciocinava desta maneira:

— Tem que morrer um no Oratório; se partir a minha casa é sinal de que eu não sou; passarei umas férias mais largas e voltarei curado.

Na sexta-feira 25, Maestro levantou-se com outros e depois de assistir à a Santa Missa, voltou para sua habitação; mas sentindo-se muito cansado deitou-se, manifestando antes aos companheiros sua satisfação por partir à casa.

Enquanto isso, às nove soou o sinal para a classe, e os companheiros, depois de despedir-se de Maestro e desejar-lhe umas felizes férias e uma boa volta, partiram a suas salas de aula enquanto o doente ficou sozinho no dormitório. Às dez veio a ver-lhe o enfermeiro para comunicar-lhe que o médico chegaria dentro de uns instantes, que se levantasse e fora à enfermaria para falar com ele e pedir-lhe o certificado que lhe havia dito (São) João Dom Bosco.

Pouco depois ouviu-se o sinal da chegada do médico e um jovem da habitação contígua a do moço, que também estava indisposto, aproximou-se da porta do dormitório de Maestro e disse em alta voz:

— Professor, Professor, é hora de ir à visita do médico

Chama-o uma e outra vez e Maestro não responde. O companheiro acreditou que ficara dormido.

Então aproximou-se do leito, toma-o por um braço, volta a chama-lo, sacode-o, mas tudo inútil: estava imóvel.

Impossível explicar o espanto do companheiro; imediatamente começou a gritar:

— Maestro morreu, Maestro morreu!

Correu a comunicar a notícia à enfermaria e o primeiro com quem tropeçou foi com (Beato) Miguel Dom Rúa, o qual até chegou a tempo de lhe dar a absolvição ao moribundo enquanto exalava o último suspiro, comunicou-lhe depois a desgraça a Dom Alasonatti, e eu — diz Dom Bonetti — fui chamar a (São) João Dom Bosco.

A notícia daquele falecimento espalhou-se como um relâmpago por classes e oficinas. Muitos foram ao dormitório e ajoelharam-se ante o cadáver, rezando pela alma do defunto. Alguns esperavam que estivesse ainda vivo, e aproximaram-se do leito com infusões e licores fortes. Mas tudo foi inútil. Quando chegou (São) João Dom Bosco apenas o viu perdeu toda esperança: aquela vida apagou-se.

O pesar era geral, especialmente porque Maestro foi-se deste mundo sem ter ao lado nem um só companheiro.

(São) João Dom Bosco, ao contemplar a consternação que tinha-se apoderado dos jovens, tranqüilizou-os sobre a salvação eterna de Maestro.

Tinha comungado na quarta-feira, e da festividade dos Santos até a data tinha observado uma conduta tal, que dava a entender que aquele jovem estava preparado para morrer.

Clérigos e jovens desfilaram ante o cadáver e ao chorar sua morte, reconheciam que com ela cumpriu-se o sonho de (São) João Dom Bosco.

O (Santo) falou de noite com todos de tal forma, que arrancou lágrimas dos olhos de seu auditório. Fez ressaltar como Deus levou-se a dois jovens do Oratório no espaço de nove ou dez dias, sem que nenhum dos dois tivesse podido receber os auxílios da Religião”.

— Quão enganados estão — exclamava — os que dizem que ajustarão suas contas no fim da vida! Mas, demos graças ao Senhor que dignou-se chamar à eternidade a dois companheiros, os quais, temos a segurança disso, encontravam-se preparados para este passo. Quanto major seria nossa dor se o Senhor tivesse permitido que partissem de nosso lado outros que observam em casa uma conduta pouco satisfatória!

Esta morte foi uma bênção do Senhor. Durante a manhã e a noite do sábado os jovens pediam em grande número fazer sua Confissão geral. (São) João Dom Bosco os tranqüilizava dirigindo-lhes algumas palavras.

Depois disse claramente:

— A Maestro foi ao que vi no sonho recebendo o papelzinho de mãos do espectro. O que me consola grandemente é que ele, como vários me asseguraram, aproximou-se dos Sacramentos na mesma manhã da sexta-feira, de forma que sua morte foi repentina, mas não imprevista.

Na manhã do domingo 27 de abril, foi conduzido ao cemitério o cadáver do desafortunado jovem.

Quando o servo de Deus viu no sonho ao espectro apresentando o bilhetinho a Maestro, pôde apreciar que a cena desenvolvia-se diante do portão que conduzia à horta; de ali o misterioso personagem indicou ao jovem o ataúde colocado debaixo de dito portão, a poucos passos de distância.

Quando chegaram os empregados de pompas fúnebres, passando pela escada central, transportaram o féretro para o lugar em que (São) João Dom Bosco tinha visto o espectro e a sua vítima; ali os funerários pediram uns banquinhos para colocar o ataúde, esperando ao sacerdote e aos alunos que tinham que acompanhar o féretro ao cemitério.

Temos que acrescentar que ao chegar Dom Cagliero e ver o féretro naquele lugar, sendo que em circunstâncias análogas o costume teria sido colocar o ataúde ao final dos pórticos junto à porta da escada próxima à igreja, mostrou-se contrariado por aquela novidade, e tão mais ao saber que os da funerária tinham levado ali os banquinhos que estavam colocados com no local tradicional. Portanto Dom Cagliero insistiu para que o caixão fosse levado ao sítio de costume, mas aqueles homens depois de dizer algumas palavras entre dentes, não quiseram mover o féretro de onde estava.

Naquele instante (São) João Dom Bosco saía da igreja e olhando comovido a cena:

— Olhem!, — disse a Dom Francesia e a alguns outros que estavam perto dele — que coincidência!… No sonho vi o caixão nesse mesmo local.

Sobre este fato deixou-nos também uma relação Dom Merlone.

Segundo ele, embora nenhum dos alunos chegou a saber qual seria o companheiro que tinha que morrer, dois da casa conheciam o nome do desafortunado e algo mais.

A fins de fevereiro morreu um jovem que fazia algum tempo tinha saído do Oratório. Dois clérigos veteranos, ordenados in sacris, um dos quais era Dom João Cagliero, ao inteirar-se do ocorrido, uma manhã ao subir as escadas e ao encontrar-se com (São) João Dom Bosco que baixava ao pátio, anunciaram-lhe esta perda para ele sempre dolorosa. (São) João Dom Bosco respondeu:

— Não será esse sozinho; antes que passem dois meses, deverão morrer outros dois.

E acrescentou os nomes.

Com freqüência o servo de Deus fazia semelhantes confidências em segredo, a quem sabia dotados de prudência, para que, sem que os jovens indicados se dessem conta, fossem por eles amigavelmente estimulados a observar boa conduta, a freqüentar os Sacramentos; e para que ao mesmo tempo os vigiassem mantendo-os separados de todo perigo.

Ambos os clérigos assumiram de boa vontade este encargo daquele custódio celestial, mas ao mesmo tempo, tomando um pedaço de papel escreveram a profecia, a data em que (São) João Dom Bosco a tinha anunciado, os nomes dos interessados e depois assinaram. Seguidamente foram à Prefeitura e, selando o escrito, depositaram-na nela para que fosse cuidadosamente guardado.

Mons. Cagliero, quarenta e sete anos depois, confirmou quanto havemos dito e recordava a compaixão que sentiu como resultado da revelação de (São) João Dom Bosco, ao ver aqueles dois jovenzinhos correr alegremente de uma parte a outra do pátio entregues a seus jogos, sem suspeitar o mais mínimo, sobre a morte, embora não desgraçada, que lhes estava reservada; e o cumprimento da profecia no tempo famoso e a emoção que experimentou o mesmo Prefeito quando retiraram os selos ao papel escrito dois meses antes.
(M. B. Volume VII, págs. 123-125)
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