Santa Escolástica: fundadora das beneditinas


Santa Escolástica: fundadora das beneditinas
Fundadora de Ordem religiosa com mais de 14 mil conventos, a irmã gêmea de São Bento foi exemplo de espírito hierárquico, voltado para as mais altas cogitações

Um dos aspectos mais lamentáveis da profunda crise que se abateu sobre a Igreja em nossos dias é o que ocorre em certos conventos femininos: freiras igualitárias não aceitam superioridades e querem até se tornar sacerdotes.

Bem ao contrário dessas freiras progressistas, Santa Escolástica — cuja festa celebra-se a 10 de fevereiro — constitui magnífico exemplo de espírito hierárquico, amando as desigualdades queridas por Deus, voltada para as mais altas cogitações e praticando pureza ilibada.

De nobre estirpe

Nascida em 480 na cidade de Núrsia, na Úmbria (região central da Itália), de família nobre, Santa Escolástica era irmã gêmea do grande Patriarca dos Monges do Ocidente, São Bento.

Logo depois que seu santo irmão abandonou o mundo e foi para a gruta de Subiaco (próxima de Roma), imitou-o, guardando a virgindade, e levando vida de oração e recolhimento.

E quando São Bento fundou a Abadia de Monte Cassino, Santa Escolástica, acompanhada de muitas outras virgens, foi procurar o irmão para pedir-lhe conselho.

Rigor de São Bento

Tal era a vigilância de São Bento que não permitia a nenhuma mulher entrar no Mosteiro, nem mesmo sua irmã. Assim, atendeu-a do lado de fora, e indicou-lhe o fundo de um vale como local para ali se estabelecer com suas filhas espirituais.

Com a maior humildade, Santa Escolástica aceitou a orientação do irmão e, juntamente com as outras virgens, passou a viver num mosteiro construído no local escolhido por São Bento. Assim nasceu a Ordem segunda dos beneditinos, da qual Santa Escolástica é Fundadora. Tal Ordem difundiu-se de modo tão prodigioso que chegou a possuir 14 mil conventos em todo o Ocidente.

Apesar de Santa Escolástica ser sua irmã, o Santo Patriarca permitia ser visitado por ela apenas uma vez por ano. A santa aceitava essa restrição com espírito humilde e submisso.

Para tais conversas São Bento ia sempre acompanhado por monges e Santa Escolástica por monjas. Exemplo de castidade ilibada, meticulosa e vigilante da parte de ambos os santos. Aplica-se-lhes literalmente o antigo e sábio adágio: “Entre santa e santo, muro de cal e canto”.

Tempestade miraculosa

A última conversação que Santa Escolástica manteve com seu irmão é narrada por São Gregório Magno na esplêndida obra Vida e Milagres de São Bento.

“Um dia — escreve São Gregório Magno — veio ela como de costume, e seu venerável irmão desceu a vê-la acompanhado de alguns discípulos. Passaram todo o dia em louvores ao Senhor e em santas conversações, e ao anoitecer tomaram juntos uma refeição.

“Estando ainda sentados à mesa, como cada vez mais se prolongasse a hora naquele santo colóquio, Santa Escolástica rogou a São Bento: “Suplico-te que não me deixes esta noite, para que possamos falar até amanhã das alegrias da vida eterna”. Mas ele repondeu: “Que estás dizendo, irmã? De modo algum posso permanecer fora do mosteiro”.

“O céu estava tão sereno que nenhuma nuvem se avistava em todo o firmamento. A santa religiosa, ao ouvir a negativa do irmão, entrelaçando sobre a mesa os dedos das mãos, apoiou nelas a cabeça para orar a Deus todo-poderoso. Quando a levantou, era tal a violência de raios e trovões, e tal a enxurrada que a chuva produzia, que nem São Bento nem os irmãos que o haviam acompanhado podiam sequer transpor os umbrais do local em que estavam abrigados.

“Efetivamente, a devota mulher, quando apoiou a cabeça sobre as mãos, havia derramado sobre a mesa uma torrente de lágrimas, as quais tiveram como efeito fazer com que a serenidade do céu se transmutasse em chuva copiosa.

“Vendo então o homem de Deus que em meio a tantos relâmpagos e trovões, e com a chuva torrencial, não lhe era possível regressar ao mosteiro, entristecido começou a queixar-se: “Que Deus onipotente te perdoe, irmã. Que foste fazer?” E ela: “Ora, pedi a ti, e não me quiseste escutar; pedi então ao Meu Senhor e Ele me ouviu” …

“E assim foi que passaram toda a noite acordados, nutrindo-se ambos na mútua conversação e em santos colóquios sobre a vida espiritual”.

No local onde ocorreu o milagre da tempestade, foi depois erigido um oratório que recebeu o nome de Capela do Colóquio.

Conversas sérias, fruto de altas cogitações

Não podemos deixar passar o fato sem um breve comentário. Os temas das conversas dos santos irmãos eram sublimes porque provinham de altíssimas cogitações. Que diferença com certas conversas de religiosos ou religiosas progressistas em que se proferem tantas palavras ociosas! E o que dizer da introdução da TV dentro de tantos conventos?

Lembremo-nos sempre de que no dia do Juízo Deus nos pedirá conta de toda palavra ociosa.

Na Ladainha de todos os Santos há esta belíssima invocação: “Para que Vos digneis elevar as nossas almas às coisas do Céu, nós Vos rogamos, ouvi-nos”.

Era esse desejo das coisas celestes que ardia nas almas de São Bento e Santa Escolástica e produzia conversas tão cheias de unção.

Três dias depois, aos 67 anos morte de Santa Escolástica

No dia seguinte a venerável fundadora beneditina voltou à sua morada, retornou também à sua o servo de Deus.

Três dias depois, estando São Bento no mosteiro, levantando os olhos ao céu viu a alma da irmã, desprendida de seu corpo, penetrar em forma de pomba nas regiões celestiais.

Compartilhando com ela a alegria por tanta glória, deu graças a Deus onipotente com louvores e cânticos, anunciou a sua morte aos monges, e enviou-os logo para que trouxessem o corpo ao mosteiro, onde o depositaram na sepultura que ele havia preparado para si mesmo.

Era 10 de fevereiro de 547. São Bento morreu 40 dias depois, em 21 de março. Em 1997, portanto, comemorar-se-ão 1.450 anos da morte de ambos os santos. Quase um milênio e meio do falecimento de dois grandes Fundadores, cujas Ordens masculina e feminina constituíram dois pilares religiosos na formação da Cristandade medieval.

Que do alto do Céu Santa Escolástica reze por nós e nos obtenha da Santíssima Virgem o amor às justas desigualdades, à pureza, bem como a recusa completa ao igualitarismo e à sensualidade reinantes neste triste final de século. Peçamos-lhe também livrar-nos do espírito prosaico, e conseguir que nossas mentes estejam sempre voltadas para o desejo das coisas celestes.

Fontes de referência:

São Gregório Magno, Vida e Milagres de São Bento, Artpress Indústria Gráfica e Editora Ltda., São Paulo, 1995.
– Pe. José Leite, SJ, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, Portugal, 1987.
Enciclopédia Cattolica, Cidade do Vaticano, 1953, Vol. XI.
http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/90C2BE7F-3048-560B-1CA1404EE632ABF6/mes/Fevereiro1996 Cadastre seu email para receber atualizações gratuitas desta página